HOSPITAL RIO
 



ENTREVISTA
REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA
Deputado Federal avalia as dificuldades do setor privado de saúde

Em entrevista, exclusiva, para o Hospital Rio, o médico e deputado federal Mário Heringer (PDT-MG), analisa algumas das razões da crise no Setor de Saúde. Integrante da Frente Parlamentar de Saúde, o deputado mineiro acredita que a solução passa pela conscientização de que os prestadores e tomadores de serviços, apesar de estarem no mesmo “barco”, estão remando para lados opostos.

Hospital Rio: Qual a sua análise sobre a atual situação do setor privado de saúde?
Dr. Mário: O nosso negócio tem um caráter humanitário que em tempo algum será retirado ou sobrepujado pelo interesse econômico. Nós cuidamos da saúde. O mundo cuida do lucro. Onde nós ficamos nisso? O que prevalece hoje, e muito justamente, é o direito do consumidor, este, cada dia mais organizado, criando institutos, procons e, no nosso caso especifico, a ANS. Os intermediários desse sistema, tanto público quanto privado, só buscam o lucro. O público (SUS) e o privado (planos de saúde) economizam sufocando os prestadores com as tabelas defasadas, atrasando pagamentos, promovendo glosas etc. Na verdade, não existe uma cadeia de interessados em resolver os “problemas da saúde”, existe sim um grande discurso mas, na prática, é “cada um por si e Deus por todos”.
No Congresso Nacional existe, como em toda a sociedade, uma sensação de que hospitais e clínicas estão nadando em dinheiro e de que nosso choro é só jogo de cena. É nisso que temos que trabalhar. Precisamos expor claramente nossas dificuldades e criar a consciência de que quem ganha hoje é o tomador de
serviços.

Hospital Rio: Quais são as causas da crise do setor?
Dr. Mário: Quem tem obtido lucro em qualquer segmento no Brasil são as empresas ligadas ao sistema financeiro, bancos, financeiras, seguradoras, agiotas oficiais e extra oficiais. Sendo assim, a causa de nossa dificuldade é este sistema, somado ao nosso comodismo e à delegação de nosso destino à mãos impróprias. A consequência primeira dessa nossa posição é a lenta agonia dos nossos hospitais e clinicas. A solução passa também pelo envolvimento direto na escolha de representantes em todos os níveis, representantes claramente sensibilizados com as demandas e problemas dos prestadores. Enquanto não agirmos dessa forma não teremos qualquer chance de sermos tratados como parceiros. Seremos usados até não sermos mais necessários, depois, seremos substituídos por outros que terão o mesmo destino.

Hospital Rio: Qual a sua avaliação a respeito da ação da Frente Parlamentar da Saúde? Quais os resultados alcançados?
Dr. Mário: A Frente Parlamentar da Saúde é um belíssimo grupo composto por Deputados e Senadores interessados nos problemas relativos à saúde. A FPS tem promovido lutas importantes para a preservação dos direitos dos usuários do Sistema Único de Saúde e tem obtido grandes vitórias, entre elas a luta contra a desvinculação das receitas da saúde em nível nacional e estadual e contra os cortes e maquiagens orçamentárias de 4 bilhões de reais no orçamento da saúde. A Frente Parlamentar é supra partidária e, naturalmente, congrega representantes de todos os setores envolvidos na saúde, mas não pode e não será usada para lutas setoriais.

Hospital Rio: Quais as suas propostas para o segmento?
Dr. Mário: Começamos no ano passado, atuando na CPI dos Planos de Saúde com o propósito de propor soluções que atendam às necessidades dos prestadores, para um relacionamento comercial decente e justo entre as partes. Os três projetos de lei que apresentei contemplam garantia de pagamentos a serviços prestados; garantia de pagamento por meio bancário; determinação de prazos para ressarcimentos de serviços prestados; determinação de critérios para descredenciamento; proibição de recusa de credenciamento de profissionais habilitados; determinação de padronização de formulários entre todos os tomadores; obrigatoriedade de divulgação de relatório de pagamento completo e detalhado; proibição de contratos profissionais com previsão de unimilitância; obrigatoriedade de resposta imediata à solicitações de autorização de procedimentos (AUTORIZANDO OU NEGANDO), e a criação de instrumento de denúncia contra desrespeitos aos direitos dos consumidores.

"Os planos de saúde buscam o lucro.
Os prestadores de serviços almejam cuidar da saúde"