HOSPITAL RIO
 


REGISTRO
O DESAFIO DE SUPERAR A CRISE
A arte de gerenciar a saúde é tema de encontro no Dia do Hospital

“O momento é difícil, mas não adianta só ficar chorando. Cabe a nós lutarmos para que, unidos, possamos melhorar o panorama atual”, afirmou o presidente da Academia Brasileira de Administração Hospitalar, Dr. Armando Carvalho Amaral, durante o Encontro Científico da ABAH, realizado em 2 de julho, comemorou o Dia do Hospital.
Para o acadêmico e diretor-executivo do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, Dr. Genésio Korbes, o desafio é grande mais precisa ser superado. “Assim como Deus transformou o caos e nos trouxe à terra, Ele nos colocou no Setor Médico-Hospitalar para que nós possamos tirar deste caos uma nova forma de gestão. Mas é preciso ter muita coragem, persistência, obstinação e criatividade para sobreviver”, incentiva.
O superintendente da Caixa de Assistência dos Funcionários do Sistema Integrado BANERJ (CABERJ), o acadêmico Haroldo Aquino Filho, apresentou o Projeto de Qualidade de Vida que tem conseguido reduzir o número de internações. “Precisamos mudar o modelo atual de pagamento, incluindo o usuário no processo e, principalmente, estabelecendo a prevenção como lógica da assistência à saúde”, acredita.

Toda equipe é responsável pelo gerenciamento de custos
O evento também abordou a questão do gerenciamento de custos como sendo responsabilidade não só do gerente, mas de todas as equipes do hospital. Segundo a gerente da Prática Assistencial do Hospital Albert Einstein, Ana Cristina Rossetti, é preciso passar para os profissionais de cada setor a responsabilidade da administração dos recursos com o objetivo de evitar o desperdício.
“É preciso também saber onde investir e não somente como economizar. Em muitos casos, o treinamento dos profissionais e a manutenção preventiva significam uma grande economia. Além disso, saber o índice de satisfação do cliente, para identificar onde os problemas hospitalares estão ocorrendo e quais são as suas causas, é fundamental para atuar de forma precisa e eficiente”, revela.
A Chefe do Serviço de Nutrição do Hospital Moinhos de Vento/RS, Elizabete Sponchiado, também alertou sobre a importância da integração de todos os setores do hospital para uma assistência completa ao paciente. “Enfermeiros ou nutricionistas não podem ficar indiferentes, respectivamente, às reclamações de dor ou fome do paciente, com a desculpa de que não cuidam desta parte, por exemplo”, alerta.
Para o acadêmico Genésio Korbes, o entrosamento da equipe de funcionários também é essencial. “É preciso formar um time, gerar um envolvimento, dizendo às pessoas o que se quer e fazê-las participar deste sonho, como é o caso do técnico de futebol Felipão, que conseguiu, de forma surpreendente, tornar a seleção de futebol de Portugal uma equipe vencedora”, compara.
O diretor-executivo do Hospital Santa Catarina/SP também ensina que um bom líder é aquele que, além de gerar o comprometimento dos profissionais, também dá o exemplo. “Não adianta só falar, é preciso ter coerência, agindo da forma adequada para verdadeiramente motivar as pessoas”, orienta Dr. Genésio.

 
NORMATIZAÇÃO
Setor de saúde ganhará um código nacional

A Saúde ganhará um Código Nacional. A novidade foi anunciada em junho deste ano, durante o 1o Congresso Médico-Jurídico Brasileiro. “No momento, estão sendo feitos os ajustes finais para o ante-projeto que será encaminhado ao presidente da Frente Parlamentar da Saúde, deputado Rafael Guerra, para ser transformado em projeto de lei, revela o advogado Antônio Ferreira Couto, consultor jurídico e idealizador do Código.
A entrega oficial do documento acontecerá em setembro, durante o Fórum de Responsabilidade Legal, no Hotel Guanabara, no Rio de Janeiro. “No Fórum os dirigentes das entidades médico-hospitalares irão assinar a Carta que será encaminhada, junto com o ante-projeto, para a FPS”, afirma.
Entre as principais norma-tizações do Código estão o relacionamento médico-paciente, o sistema de credenciamento e descredenciamento de médicos e hospitais, o geren-ciamento das verbas relativas à Saúde, entre outras.
“ Precisamos abandonar a hipocrisia e participar do processo pelo qual a ética, que é a mãe da lei, surgirá com força total para reclamar a sua maternidade e ordenar as questões relativas à Saúde. Sabemos que inúmeros ajustes são necessários e que a luta será grande”, avisa Antônio Couto.

Prontuário é instrumento de defesa
“ Erro Médico: procedente – improcedente” foi o tema do 1o Congresso Médico-Jurídico Brasileiro, que aconteceu nos dias 16 e 17 de junho no Rio de Janeiro, e reuniu dirigentes hospitalares, profissionais de saúde, juristas etc.
Segundo o juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Dr. Werson Rego, que também participou do Congresso, os médicos precisam tomar consciência do que é realmente um erro médico. “Não se pode exigir do médico a cura de uma pessoa, mas sim que ele atue com todo o zelo e diligência, para obter o melhor resultado possível”, revela.
Para que um simples “não gostei”, dito pelo paciente ou familiar, não se torne uma ação de responsabilidade civil, é preciso que eles sejam informados de todos os riscos inerentes ao tratamento médico ou intervenção cirúrgica.
“ A melhor prevenção é ter a consciência de que o erro pode acontecer e trazer sérios danos para os pacientes, além de colocar em risco toda uma vida de estudo e trabalho do médico. A vigilância constante é fundamental, pois qualquer cochilo pode ser fatal”, alerta o juiz.
Segundo Dr. Werson, quando o Código de Ética Médica é seguido a risca, os riscos são reduzidos e aumenta a chance do médico jamais sentar no banco dos réus. “Um prontuário bem redigido também é um instrumento importante na defesa médica. E caso seja informatizado é necessário que existam meios seguros para garantir que os dados não serão alterados após a inclusão”, informa.
Para o perito judicial e professor do Curso de Pós-graduação Ivo Pitangui, Dr. Carlos Alberto Jaimovith, um bom exame clínico é essencial. “A melhor profilaxia é a conversa do médico com seu paciente, onde eles se olham de frente, com transparência, em um relacionamento de compreensão e respeito”, ensina.

 
CNS DISCUTE GESTÃO DO TRABALHO

A CNS foi a única entidade do setor privado a participar do Seminário Latino-Americano e Caribenho, sobre “GESTÃO DO TRABALHO NOS SISTEMAS NACIONAIS DE SAÚDE”, realizado em Brasília nos dias 5 e 6 de julho deste ano. Estiveram presentes 100 participantes de diversos países da América do Sul e Caribe que mostraram os avanços, dificuldades, metas e propostas na área de recursos humanos do setor de saúde.
A falta de conscientização dos trabalhadores para o trabalho em equipe, a carência de formação adequada, a baixa remuneração dos trabalhadores, a ausência de planos de carreira foram as principais constatações. “Nos próximos meses, será divulgado o relatório final do Seminário, que deverá apresentar as considerações detalhadas além de recomendações para os gestores”, afirma o assessor técnico da entidade, Dr. Olympio Távora, que participou da Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS, na abertura do evento.
 
DESPERDÍCIO
Falta de Interação gera o descarte indevido de resíduos

“O desperdício de medicamentos é um grande gerador de lixo e despesas desnecessárias para o hospital. É preciso que toda sobra seja devolvida ao setor de farmácia, com o objetivo de evitar que remédios iguais sejam fracionados e descartados, ao mesmo tempo, em setores diferentes. O excesso de sobras gera prejuízo para a unidade hospitalar e um maior volume de resíduos químicos que, normalmente, precisam de tratamento especial”, alerta a gerente do Departamento de Higiene e Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde da COMLURB, Carla Assad.
A gerente participou do Workshop “Conscientização e Reorientação de uma Nova Cultura em Resíduos Hospitalares, em conformidade com o Plano de Gerenciamento de Resíduos em Serviços de Saúde (PGRSS), segundo a RDC 33 da ANVISA. O evento, realizado pelo Hospital de Olhos de Niterói, em 8 de julho, teve o apoio do SINDHERJ e reuniu inúmeros gestores e profissionais de saúde.
Segundo a enfermeira do HON, Gabriela Portella, além de racionalizar o processo de compra de medicamentos, o setor de farmácia do hospital também reduz o volume de resíduos através da solidariedade. “Sempre que necessário, nossa farmacêutica entra em contato com instituições públicas e beneficentes para efetuar a doação dos remédios, antes que os produtos percam a validade e tenham de ser descartados”, revela.
Carla também informou que a unidade hospitalar pode reduzir o volume de lixo, em muitos casos, repassando para os fornecedores a responsabilidade pelo descarte de produtos como pilhas, baterias, filtros de ar condicionado etc. “Além disso, o hospital precisa fazer a revisão dos contratos com as empresas terceirizadas. Muitas cláusulas contratuais podem ser modificadas para a melhor aplicação do PGRSS”, orienta Carla Assad.

Implantação do PGRSS acontece com a motivação dos profissionais
Para o coordenador do Centro de Estudos do Trabalhador e Ecologia Humana da Fiocruz, Dr. Hermano Albuquerque de Castro, a mudança cultural dos funcionários do hospital só acontecerá através de um processo educativo. “Não basta dizer que normas terão de ser cumpridas a partir de determinada data e pronto, é necessário conscientizar as pessoas através de treinamentos”, ensina.
Após a aplicação do PGRSS no Hospital dos Olhos de Niterói, o volume de resíduo contaminado diminuiu e aumentou o de lixo reciclável, que antes era praticamente inexistente.
“ Dessa forma, conseguirmos reduzir o valor da taxa de coleta de lixo infectante e pudemos investir em projetos sociais que, através da reciclagem, fazem a vida nascer do lixo. Em agosto, nós iremos lançar uma campanha interna de motivação contínua de nossos profissionais para que o PGRSS não caia no esquecimento”, revela a administradora do HON, Faiga de Freitas Marques.

Resíduo hospitalar exige manejo especial
Segundo a gerente de Infra-estrutura em Serviços de Saúde da ANVISA, Dra. Regina Barcellos, que também participou do Workshop, o resíduo hospitalar exige um tratamento especial em seu manejo, mas não é sempre perigoso.
“ Em média, apenas 15% dos RSS são materiais de risco. A maior parte do lixo das unidades hospitalares são resíduos comuns que podem ser recolhidos normalmente. É bom observar também, para desmistificar a questão do lixo hospitalar, que muitas doenças contagiosas, como a hepatite e a tuberculose, são tratadas em casa, ou seja, o lixo gerado é considerado comum e não recebe a atenção devida”, ressalta Regina.